segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A saia azul da “vovó de programa”

Ela podia ter características semelhantes a qualquer vózinha, mas ela não era uma idosa comum. Sua aparência certificava de que ela já havia passado há tempos dos sessenta, mas no lugar da agulha de tricô ela trazia nos dedos um cigarro amassado. De trago em trago a vovó se desmanchava junto à fumaça e cada tragada era na verdade um grande sussurro. A saia azul de todo dia, carregava o azul da esperança que há muito tempo ela havia deixado para trás. No lugar dos sonhos, trazia apenas resquícios do que sobrou da sua juventude. O batom vermelho nos lábios, o esmalte descascado e um olhar que ao invés de malícia transbordava cansaço. Não sei quantas noites aquela esquina recebeu a visita ilustre daquela insistente senhora, mas sei que estas mesmas noites roubaram sua doçura. O olhar distante e descrente eram suas marcas, e para alguém que oferecia “diversão” não sobrava nada além de olhos cansados e já sem vigor. Sua companhia pouco valia e era cada vez mais raro alguém se aproximar, mas para ela pouco importava, no fundo ela sabia que a cada noite a hora de partir era a única que se aproximava.

Um comentário:

  1. Muito legal também esse seu blog. Eu já sigo o "Já tive muitos critérios, hoje só vários delírios" e agora esse. Gosto muito dos seus textos.
    Parabéns pelo blog.
    Abraços!

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